quarta-feira, 21 de julho de 2010

Pós-modernidade: Jean-François Lyotard

Um jogo de linguagem significa que nenhum conceito ou teoria poderia capturar adequadamente a linguagem em sua totalidade, no mínimo porque a tentativa de fazê-lo constitui seu próprio jogo particular de linguagem. Assim, grandes narrativas não têm mais credibilidade, pois fazem parte de um jogo de linguagem que é ele próprio parte de uma multiplicidade de jogos de linguagem. Lyotard escreveu sobre o discurso especulativo como um jogo de linguagem - um jogo com regras específicas que podem ser analisadas em termos da forma como as declarações deveriam estar ligadas umas às outras.


Lechte, John"50 Pensadores Contemporâneos Essenciais:do Estruturalismo à Pós-modernidade", tradução de Fábio Fernandes,Editora Difel.,2002

terça-feira, 20 de julho de 2010

Pós-modernidade: Franz Kafka

O papel do enigma e da obscuridade não é de modo algum o resultado sem ambigüidade de uma estratégia de escrita, mas muitas vezes parece ser intrínseco ao objeto sendo descrito. Em nenhum lugar isto é mais bem demonstrado que na discussão sobre a lei em "O Processo". A lei, que deveria iluminar o caso, ao mesmo tempo o obscurece. A lei na verdade parece se um ponto cego bem em seu cerne. Pois ela é incapaz de responder definitivamente à questão de quem está dentro e quem está fora da lei. Em princípio, a lei é incapaz de admitir seus limites; ela pretende ser toda-poderosa. De fato, entretanto, sempre existe áreas fora da leia, como as áreas de diversão, horror e morte - as próprias áreas pelas quais o texto de Kafka é obcecado.


Lechte, John"50 Pensadores Contemporâneos Essenciais:do Estruturalismo à Pós-modernidade", tradução de Fábio Fernandes,Editora Difel.,2002

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Pós-modernidade: Marguerite Duras

Para Kristeva, então, a obra de Duras precisa ser vista contra um pano de fundo de temas apocalípticos: Hiroshima, o Holocausto, o stalinismo, o colonialismo. Ela participa, pois, da busca de um meio simbólico adequado para representar o horror do que aconteceu. Em vez de se concentrar em um sentido público do sofrimento, este é apresentado em um contexto intensamente privado. As pessoas se trancam em sua tristeza - ou depressão - particular, de modo que seu discurso, em vez de ser um meio para uma alguma espécie de catarse ou aceitação do horror, é na verdade um sintoma dele. Como os escritos de Duras são tão intensamente evocativos e descritivos de tristeza, em vez de serem uma análise dela, eles, na visão de Kristeva, nos levam à beira da loucura com a qual seus textos se fundem mais do que a representam ou transcendem. Essa loucura, no entanto, é hoje o único meio de vida da individualidade, tão empobrecidos estão os meios públicos de representação.


Lechte, John"50 Pensadores Contemporâneos Essenciais:do Estruturalismo à Pós-modernidade", tradução de Fábio Fernandes,Editora Difel.,2002

domingo, 18 de julho de 2010

Pós-modernidade: Jean Baudrillard

Com respeito à simulação, Braudillard define três tipos^: o do falsificado dominante na era clássica do Renascimento, a da produção na era industrial e, por último, a simulação da era atual governada pelo código. Como o objeto falsificado, a diferença entre o real e ou objeto "natural" é tornada aparente; na produção industrial, a diferença entre o objeto e o processo de trabalho é  tornada evidente; na era da simulação, não a produção, mas a reprodução de objetos torna-se crucial. E, como já vimos, o princípio da reprodução está contido no código. Com relação à reprodução, é evidente que a força de trabalho, ou o trabalhador, também é reproduzida. A reprodução, portanto, inclui o que teriam sido ambos os lados da equação na era do industrialismo. Hoje, a origem das coisas não é uma coisa ou ser original, mas fórmulas, sinais codificados e números. Dado que a origem na reprodução é o princípio da geração, e não o objeto gerado, a completa reversibilidade é possível: o último "original" produzido pode perfeitamente ser reproduzido. A diferença entre o real e sua representação é apagada, e a era do simulacro emerge. Em sua forma extrema, portanto, mesmo a morte pode ser integrada ao sistema; ou, melhor, o princípio da reversibilidade implica que a morte não aconteça de fato.


Lechte, John"50 Pensadores Contemporâneos Essenciais:do Estruturalismo à Pós-modernidade", tradução de Fábio Fernandes,Editora Difel.,2002

sábado, 17 de julho de 2010

Modernidade: Philippe Sollers

Um termo que é para Sollers quase sinônimo de "exceção" é "singularidade". Para ter uma melhor apreensão dessa idéia do início dos anos 80, Sollers, juntamente com alguns de seus colegas, como Jean-Houdebine, buscou uma elaboração de "singularidade" ao conceito de "haecceitas" de Duns-Scotus. Literalmente, haecceitas é o "issismo" ("thisness" no original) de algo. É absoluta particularidade ou individualidade. Na verdade, haecceitas é o que não pode ser considerado por qualquer convenção ou norma social preexistente; antes, a norma em si tem de ser modificada para abrir caminho para a singularidade que é a haecceitas. O sistema social inevitavelmente censura a singularidade; mas, como um sistema aberto em biologia, a singularidade também é essencial para manter a vitalidade do sistema.


Lechte, John"50 Pensadores Contemporâneos Essenciais:do Estruturalismo à Pós-modernidade", tradução de Fábio Fernandes,Editora Difel.,2002

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Modernidade: Georg Simmel

Em "The metropolis and mental life", Simmel oferece um esboço analítico da interação entre consciência individuais e a cidade moderna. Como Ferdinand Tönnies e outros ants dele, Simmel destaca a forma pela a qual vida na cidade em seu sentido moderno contrasta com a tradição. Na cidade, os laços formais entre indivíduos substituem os laços afetivos mais tradicionais; com ascensão da burocracia e da ciência, a vida  torna-se altamente diferenciada; ela não possui mais um conteúdo fixo, mas é antes, carecterizada por formas abstratas, das quais o dinheiro é a mais importante. Antes de entrarmos em mais detalhes, vamos observar que, na metrópole, o dinheiro, como meio de troca, permite a transferência da mais ampla variedade possível de artigos imagináveis porque é uma medida comum para todos; é, portanto, um grande nivelador.


Lechte, John"50 Pensadores Contemporâneos Essenciais:do Estruturalismo à Pós-modernidade", tradução de Fábio Fernandes,Editora Difel.,2002

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Modernidade: Friedrich Nietzche

A figura do homem superior atinge seu apogeu no postumamente publicado A Vontade da Potência. De modo interessante, Nietzche se caracterizava como um pensador quintessencialmente póstumo - um pensador fora de sintonia com sua época. Apesar de seu status póstumo, A Vontade da Potência é a mais bem sustentada articulação de uma série de aspectos centrais do pensamento de Nietzche. Esses incluem: a vontade da potência; o eterno retorno; o niilismo; o antiidealismo; e uma reavaliação de todos os valores. 


Lechte, John"50 Pensadores Contemporâneos Essenciais:do Estruturalismo à Pós-modernidade", tradução de Fábio Fernandes,Editora Difel.,2002

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Modernidade: James Joyce

O problema de escrever, evidente em um texto como Ulysses, é de como dar uma forma literária - escrita - ao acaso e à contingência - em outras palavras, aos eventos do aqui e do agora. Kristeva denominou esse aspecto da escrita de Joyce uma "revelação" - mediante o qual ela quer dizer que o texto é uma escrita do que não pode ser previsto por uma estrutura (simbólica) ou armação. Isso poderá parecer uma coisa estranha de dizer, dado que a escrita de Joyce aparentemente lida com a própria banalidade da existência, ou seja, com as coisas que parecem estar tão distantes quanto possível do exótico ou do heróico.


Lechte, John"50 Pensadores Contemporâneos Essenciais:do Estruturalismo à Pós-modernidade", tradução de Fábio Fernandes,Editora Difel.,2002

terça-feira, 13 de julho de 2010

Modernidade: Maurice Blanchot

Diferente de Joyce, Blanchet não escreve uma prosa "ilegível"; nem compões textos explicitamente musicais, como Mallarmé - embora o autor de Un Coup de dés seja um importante ponto de referência para ele. Ao contrário, a limpidez imediata da escrita ficcional de Blanchot leva o leitor a esperar que seu significado seja correspondentemente acessível. A frase de abertura de L´Arrêt de mort (Sentença de morte) é exemplar: "Essas coisas me acontecerem em 1938". Gradualmente essa limpidez de estilo e sentido dá margem a uma profunda obscuridade. Nomes são apagados à la Kafka; o lugar em que os eventos acontecem parece ser Paris, mas os endereços completos jamais são dados: "J" é uma mulher com uma doença terminal que parece morrer por vontade própria e que, mais tarde, parece ser auxiliada a morrer pelo narrador, que administra um coquetel mortal de morfina e sedativo. Os eventos parecem acontecer na época da crise de Munique, mas ao narrador também dá a impressão de que os "eventos" envolvidos são os que pertencem à escrita como os da história - uma escrita que o narrador continuamente se recusa a assumir. Na verdade, o tempo da escrita é ambíguo. Um rascunho inicial da narrativa foi destruído, e isso impele a escrita ao passado distante, enquanto, no ponto após a morte de J, o narrador diz que os eventos sendo narrados ainda não aconteceram. Esses tipos de característica na obra de Blanchot provocaram a descrição deles como navegando no torvelinho da indeterminação. E, de fato, a própria teoria literária de Blanchot oferece algumas bases para isso.


Lechte, John"50 Pensadores Contemporâneos Essenciais:do Estruturalismo à Pós-modernidade", tradução de Fábio Fernandes,Editora Difel.,2002

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Modernidade: Walter Benjamin

Muito embora Benjamim estivesse claramente fascinado pela modernidade - como o Projeto Arcades e seus outros escritos indicam -, ele também tem sido considerado um teórico da tradição, que supostamente teria sido o que a modernidade eliminou. Sem, a esta altura, procurar um motivo judaico para esse interesse, é possível sugerir que o ponto de conexão entre tradição e modernidade na obra de Benjamin seja a idéia de reprodução. Ela emerge em uma série de disfarces diferentes nos escritos de Benjamin: na imagem do contador de histórias, na concepção de tradução, na valorização da mémoire involontaire de Proust, no aspecto lírico da poesia de Baudelaire e no conceito de transmissão cultural no Projeto Arcades. Muito brevemente, vamos examinar cada um desses aspectos.


Lechte, John"50 Pensadores Contemporâneos Essenciais:do Estruturalismo à Pós-modernidade", tradução de Fábio Fernandes,Editora Difel.,2002

domingo, 11 de julho de 2010

Pós-marxismo: Alain Touraine

Geralmente, um movimento social é uma força ativa, mais do que reativa, diferente do comportamento coletivo, que é sempre reativo.
Os movimentos sociais são costumeiramente lutas pelo controle da "historicidade". A historicidade se refere às estruturas e formais culturais gerais da vida social. Se o termo "sociedade" se refere à integração social, "movimento social" implica uma ação conflitante se opondo a uma forma existente de integração social. Esse desafio à integração social existente não é o mesmo que uma crise da sociedade como tal e o colapso da organização social. Mudanças provocadas pela ação social não devem, portanto, ser vistas como patológicas ou "disfuncionais" em termos parsonianos. Uma sociologia dos movimentos sociais difere, pois, marcadamente de um estudo da sociedade como um sistema orgânico no processo de evolução gradual de uma forma para outra - por exemplo, a evolução da sociedade ocidental da tradição para a modernidade.



Lechte, John"50 Pensadores Contemporâneos Essenciais:do Estruturalismo à Pós-modernidade", tradução de Fábio Fernandes,Editora Difel.,2002

sábado, 10 de julho de 2010

Pós-marxismo: Ernesto Laclau

Em seu último livro, Lacau elabora sobre esses pontos dizendo que uma identidade totalmente auto-determinada seria equivalente à autonomia total. Se fosse esse o caso, a questão da autonomia individual seria redundante. Só o fato de que a identidade é parcialmente determinada e fluida torna isso uma questão política constante. Por outro lado, se o sujeito não fosse nada a não ser o que a estrutura social determinasse, ela seria a mesma coisa que a estrutura - como o marxismo clássico tendia a supor. A identidade é constituída num sistema de relações - ela é, segundo Saussure, relacional -, mas não é redutível a essas relações. A identidade é relacional e autônoma ao mesmo tempo. De fato, é o resultado do deslocamento que disso advém.


Lechte, John"50 Pensadores Contemporâneos Essenciais:do Estruturalismo à Pós-modernidade", tradução de Fábio Fernandes,Editora Difel.,2002

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Pós-marxismo: Jürgen Habermas

Ao seguir a tradição idealista alemã, Habermas usa Marx para desenvolver uma estratégia de crítica que seria, como ele vê, essencialmente emancipatória. Assim, enquanto Marx enfatizava o papel auto-formativo do labor prático, Habermas, com um aceno de cabeça para Hegel, vê o labor como uma crítica - particularmente voltando contra a força anestesiante da razão instrumental. Mostrando o que havia sido atingido em um sentido prático pela tradição hermenêutica alemã - no que Habermas inclui Freud - o caminhos está aberto para se depositar uma ênfase bem maior em formas simbólicas de interação do que Marx havia visualizado.


Lechte, John"50 Pensadores Contemporâneos Essenciais:do Estruturalismo à Pós-modernidade", tradução de Fábio Fernandes,Editora Difel.,2002

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Pós-marxismo: Hanna Arendt

A condição humana (que nunca é fixa) pode ter o domínio da liberdade restaurado, hoje, no mundo moderno, diz Arendt, porque os avanços da tecnologia tornaram a "questão social" (sobre necessidades e como fazê-la) redundante. A principal atividade das vidas dos que vivem em sociedades privilegiadas não precisa mais ser governada pela necessidade, como antes na história.


Lechte, John"50 Pensadores Contemporâneos Essenciais:do Estruturalismo à Pós-modernidade", tradução de Fábio Fernandes,Editora Difel.,2002

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Pós-marxismo: Theodor Adorno

Diferente do sistema de Hegel, em que o elemento heterogêneo seria recuperado dialeticamente pelo princípio da "negação da negação", Adorno anuncia o princípio da "dialética negativa", um princípio que recusa qualquer espécie de afirmação, ou positividade, um princípio de negatividade completa. Portanto, a dialética negativa é não-identidade. Esse elemento-chave no pensamento de Adorno tem uma série de sinônimos além dos já mencionados, como, por exemplo,"contradição", "dissonância", "liberdade", "o divergente" e "o inexpressível". Apesar da importância da não-identidade, Adorno também diz que nenhum pensamento pode de fato expressar a não-identidade, pois "pensar é identificar". O pensamento da identidade só pode pensar a contradição como pura, ou seja, outra identidade. Onde, e como, então, o pensamento da não-identidade de fato deixa sua marca sobre o pensamento? Resumindo, qual é a base material da dialética negativa do pensamento?


Lechte, John"50 Pensadores Contemporâneos Essenciais:do Estruturalismo à Pós-modernidade", tradução de Fábio Fernandes,Editora Difel.,2002

terça-feira, 6 de julho de 2010

Feminismo- Segunda Geração:Carole Pateman

As feministas, insiste Pateman, negam que a forma existente da dicotomia privado/pública seja em qualquer sentido natural. O problema, entretanto, é saber como uma esfera privada que não é sujeita à lei (exceto em casos extremos) pode de fato ser conservada em uma sociedade inteiramente moderna e democrática. Na melhor das hipóteses podemos imaginar que a a esfera privada será a esfera do individual, e não a da família, como foi no passado. Uma teoria verdadeiramente geral da sociedade política terá, portanto, que abordar o problema da natureza da dicotomia privado/público.


Lechte, John"50 Pensadores Contemporâneos Essenciais:do Estruturalismo à Pós-modernidade", tradução de Fábio Fernandes,Editora Difel.,2002

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Feminismo- Segunda Geração:Michèle Doeuff

De modo mais geral, Le Doeuff diz as imagens na filosofia têm sido explicadas dentro do metadiscurso da filosofia sobre si mesma de duas maneiras: ou elas foram vistas como uma marca de ressurgência de uma forma de pensamento mais primitivo ou infantil; ou como possuidoras de uma clareza intuitiva e auto-evidente, como se a imagem pudesse falar diretamente o pensamento que o filósofo desejasse comunicar. Essa última qualidade tornaria as imagens um modo eficiente de transmitir o pensamento a um interlocutor inculto ou sem treinamento. Aos olhos de Le Doeufff, ambas as explicações servem apenas para ocultar o efeito real da imagem da filosofia. Por meio das imagens, "toda filosofia pode ser engajar em uma dogmatização rígida e decretar um ´é assim que as coisa são´ sem temer contra-argumentações, já que está entendido que um bom leitor passaria por cima dessas ´ilustrações´. As imagens, portanto, são um meio pelo qual a filosofia pode ser ou não filosófica, resguardando a imagem da análise e discussão, o que, para a aurora, equivale a preservar a própria filosofia.


Lechte, John"50 Pensadores Contemporâneos Essenciais:do Estruturalismo à Pós-modernidade", tradução de Fábio Fernandes,Editora Difel.,2002

domingo, 4 de julho de 2010

Feminismo- Segunda Geração:Luce Irigaray

Se a linguagem (para Lacan) é irredutivelmente fálica, a única forma que as mulheres têm de falar ou se comunicar é se apropriando do instrumento masculino. De um modo ou de outro, a mulher tem de "ter" o falo do qual sente falta:o déficit tem que ser compensado. Pra falar claramente, para comunicar e forjar vínculos com outros - para se social - a mulher precisa falar como um homem. Não falar isso é arriscar-se à psicose: voltar a um idioleto e colocar o vínculo social de lado. A versão de Lacan (que ele chama a père-version) da linguagem é, para Irigaray, repetida na maioria das teorias psicanalíticas da linguagem e da sexualidade. Se as mulheres querem ter uma identidade própria, a versão fálica do simbólico à qual foram sujeitas por tanto tempo precisa ser subvertida. Pois o simbólico tem sido a fonte de opressão da mulher.


Lechte, John"50 Pensadores Contemporâneos Essenciais:do Estruturalismo à Pós-modernidade", tradução de Fábio Fernandes,Editora Difel.,2002

sábado, 3 de julho de 2010

Semiótica: Tzvetan Todorov

Falando de modo geral, Todorov busca trazer à luz os vários processos (procédés) pelos quais uma narrativa é realizada. Esses processos devem permanecer relativamente invisíveis para o leitor para que a narrativa seja bem-sucedida como a portadora de uma história com intriga. Esses processos são também equivalentes às funções ou sentidos (sens) de cada elemento da narrativa como um todo. Como Genette, Todorov também está interessado em analisar, em um texto determinado, tempo, narração subjetividade (ou o contexto ou processo da narração) e objetividade (ou a narração como uma citação ou ato linguístico completado).


Lechte, John"50 Pensadores Contemporâneos Essenciais:do Estruturalismo à Pós-modernidade", tradução de Fábio Fernandes,Editora Difel.,2002

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Semiótica: Fernand de Saussure

Provavelmente a principal objeção que pode ser levantada contra a transposição da ênfase de Saussure na estrutura para o estudo da vida social e cultural é que ele não dá suficiente espaço para o papel da prática e da autonomia individual. Ver a liberdade humana como produto da vida social, mais do que como a origem da causa da vida social, fez com ela parecesse, aos olhos de alguns observadores, ser bastante limitada. Um viés conservador, negando a possibilidade da mudança, seria então a conseqüência da estrutura. Embora esse problema ainda esteja por se resolver, talvez seja importante reconhecer a diferença entre a liberdade do indivíduo hipotético (cuja própria existência social seria equivalente a um limite na liberdade) e uma sociedade de indivíduos livres, no qual a liberdade seria o resultado da vida social compreendida como uma estrutura de diferenças. Ou, melhor, poderíamos dizer que talvez os pesquisadores devessem começar a explorar a idéia de que, parafraseando Saussure, sociedade é um sistema de liberdades sem termos positivos. Sob essa leitura, não haveria liberdade essencial ou substantiva: nenhuma liberdade encarnada no indivíduo  em um estado de natureza.


Lechte, John"50 Pensadores Contemporâneos Essenciais:do Estruturalismo à Pós-modernidade", tradução de Fábio Fernandes,Editora Difel.,2002

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Semiótica: Charles Sanders Peirce

Até certo ponto o próprio Peirce antecipou as limitações que Eco e outros têm detectado em seus escritos sobre signos. E isso não se dá apenas no sentido de um cientista positivista pronto para ceder seu lugar na história para uma nova geração de pesquisadores, mas também no sentido de alguém que se via com um "pioneiro ou um caipira" engajado em "limpar e revelar" a "semiótica, ou seja, a doutrina da natureza essencial e variedades fundamentais da semiose possível". E como se antecipando a leitura de Dostoievski por Bakthin, Peirce também argumentou não só que todo pensamento é necessariamente em signos, como também que "todo pensamento é dialógica em forma", ainda que esse diálogo seja apenas consigo mesmo. Essa linha dinâmica na teoria dos signos de Peirce torna-o o pai de uma semiótica não-positivista.


Lechte, John"50 Pensadores Contemporâneos Essenciais:do Estruturalismo à Pós-modernidade", tradução de Fábio Fernandes,Editora Difel.,2002

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Semiótica: Julia Kristeva

Em sua magnum opus, La révolution du language poétique, Kristeva não só mostra como a base poética da linguagem (seus sons  e ritmos, e múltiplas bases de enunciação) é explorada por escritores de vanguarda do século XIX, como Mallarmé e Lautréamont, mas também demonstra como a linguagem poética tem efeitos numa formação histórica e econômica específica, a saber: a França da Terceira República. Nessa obra, também, Kristeva dá continuidade ao desenvolvimento de sua teoria do sujeito como um sujeito em processo; mas agora ela citar explicitamente a teoria psicanalítica lacaniana. O semiótico, portanto, equaciona=se com o chora feminino, que é grosseiramente o lugar irrepresentável da mãe. É um tipo de origem, mas não uma origem nominável; pois isso o enquadraria no reino simbólico e nos daria uma falsa idéia dele. Como o feminino em geral, o chora está do lado da dimensão material e poética da linguagem.


Lechte, John"50 Pensadores Contemporâneos Essenciais:do Estruturalismo à Pós-modernidade", tradução de Fábio Fernandes,Editora Difel.,2002

terça-feira, 29 de junho de 2010

Semiótica: Louis Hjelmslev

Como Saussure, Hjelmslev começa da posição de que a linguagem é uma instituição supra-individual que deve ser estudada e analisada por si só, e não ser vista como o veículo, ou instrumento, de conhecimento, pensamento, emoção - ou, de modo mais geral, como um meio de contato com o que lhe é externo. Resumindo, a abordagem transcendental (linguagem como um meio) deveria abrir caminho a uma abordagem imanente (o estudo da linguagem em si mesma). Para esse fim Hjelmslev desenvolveu o que pensava como um sistema simples e rigoroso de conceitos e termos que esclareceria, no nível mais alto de generalidade, a natureza da linguagem e também tornaria mais competente o estudo de suas realizações.


Lechte, John"50 Pensadores Contemporâneos Essenciais:do Estruturalismo à Pós-modernidade", tradução de Fábio Fernandes,Editora Difel.,2002

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Semiótica: Algirdas Julien Greimas

A semiótica estrutural, entretanto, rompe com uma concepção lingüística convencional de significado, concentrando-se não na palavra nem na sentença fora de contexto, mas na rede de relações em que o significado emerge. Como vimos acima, porque, para Greimas, a idéia de uma "rede de relações" anda de mãos dadas com a realização da linguagem, uma semântica estrutural torna-se uma semiótica estrutural quando o sentido é transposto para unidades de análise descrevendo a produção de sentido em um contexto determinado. Resumindo, a semiótica estrutural descreve o sentido do sentido. Esse sentido não será nem intencional (relacionado ao sujeito piscológico_, nem hermenêutico (um sentido anterior à realização da linguagem). Em suma, Greimas busca estudar a produção de sentido no discurso: o sentido com um processo de significação.


Lechte, John"50 Pensadores Contemporâneos Essenciais:do Estruturalismo à Pós-modernidade", tradução de Fábio Fernandes,Editora Difel.,2002

domingo, 27 de junho de 2010

Semiótica: Umberto Eco

Embora A Theory of Semiotics lide explicitamente com uma teoria de códigos e de produção de signos, seu ponto de partida subjacente é o conceito de Peirce sobre "semiose ilimitada". A semiose ilimitada refere-se, nas mãos de Eco, ao tipo de posição central em relação à posição do leitor. Embora a semiose ilimitada seja o resultado dos fatos de que signos em linguagem sempre sempre se referem a outros signos e que um texto sempre oferece a perspectiva de infinitas interpretações. Eco quer evitar os extremos de sentido unívoco, por um lado, em oposição a infinitas mensagens, por outro. A semiose ilimitada corresponde ao "interpretante" de Peirce, em que o sentido é estabelecido com referência às condições de possibilidade.


Lechte, John"50 Pensadores Contemporâneos Essenciais:do Estruturalismo à Pós-modernidade", tradução de Fábio Fernandes,Editora Difel.,2002

sábado, 26 de junho de 2010

Semiótica: Roland Barthes

Depois de analisar Sade, Fourier e Loyola como "logotetas" e fundadores de "linguagens" em Sade, Fourier, Loyola - um exercício lembrando a "linguagem" (langue) da moda - Barthes escreveu sobre prazer e leitura em O Prazer do Texto. Este último marca uma antecipação do estilo mais fragmentário, personalizado e semificcional dos escritos futuros. O prazer do texto está "vinculado à consistência do self, do sujeito que está seguro de seus valores de conforto, expansividade, satisfação". Esse prazer, que é típico do texto legível, contrasta com o texto de jouissance (o texto do divertimento, do êxtase, da perda do self). O texto do prazer contém muitas vezes delicadeza e refinamento supremos, em contraste com o freqüentemente ilegível texto poético da jouissance. Os próprios textos de Barthes, especialmente de 1973 em diante, podem ser descritos acuradamente em termos dessa concepção de prazer. Assim, após desfilar a linguagem (langue) de outros, Barthes, como um escritor de prazer, passou a dar largas a sua própria linguagem singular. De um ponto em que se tornou crítico por medo de não ser capaz de escrever (ficções em particular). Barthes não só se tornou um grande escritor, como também tornou difusa a distinção entre crítica e escrita (poética).


Lechte, John"50 Pensadores Contemporâneos Essenciais:do Estruturalismo à Pós-modernidade", tradução de Fábio Fernandes,Editora Difel.,2002

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Pós-estruturalismo: Emmanuel Levinas

A relação íntima de Levinas com a fenomenologia de Husserl forneceu a base para uma consideração detalhada da "determinação" da existência, como incorporada, por exemplo, na forma pessoal (em inglês) do verbo to be: "there is", ou seu equivalente francês, il y a, ou ainda (em alemão) es gibt. Levinas dá a essa mais cotidiana da expressões cotidianas uma poderosa virada, vinculando-a ao horror: "There is" é impessoal e determinado;não é exterior nem interior; é, diz Levinas, "o puro fato de ser", "There is" - o determinado (cf. es gibt) do Ser - é o equivalente da noite, da ambigüidade, da indeterminação. "There is" vem ao pensamento, confronta-o antes que a revelação ou o conceito o ordene de qualquer maneira; desliza pela transcendência e chega a desafiar o ego e todas as formas pessoais do simbólico. Como tal, Levinas argumenta, "O roçar do there is... é horror". E o autor continua, observando o modo pelo qual o "there is" se insinua na noite, como uma ameaça indeterminada do espaço propriamente dito desengajada de sua função como um receptáculo de objetos, como um meio de acesso aos seres. Embora Levinas recusasse a mais vaga pista de uma explicação psicanalítica, é como se o "there is" como horror fosse um trauma para a consciência e uma impossibilidade para processos simbólicos. Entretanto, também deveríamos nos lembrar de que o horror aqui é sempre já determinado: é portanto, inevitável, como o ser é inevitável. Não deve, então, ser compreendido como equivalente à ansiedade heideggeriana antes do conhecimento do nada: "Estar consciente é ser arrancado do there is." Isso ocorre porque a consciência precisa formar-se em uma subjetividade construída por uma certa estrutura de racionalidade. Levinas está interessado no lado obscuro dessa racionalidade, que não é simplesmente o irracional ou o vácuo indizível, mas uma força positiva que não pode ser excluída. Colocando de outra forma: a subjetividade se forma segundo os princípios universais da filosofia ocidental; o "there is", por comparação, é contingência - o particular que esconde o universal. O "espectro assustador", como visto em Macbeth, de Shakespeare, é o Ser como o "there is", e é isso precisamente o que aterroriza Macbeth. Noite, crime, espectro e horror aqui se juntam para dar a sombra do ser.


Lechte, John"50 Pensadores Contemporâneos Essenciais:do Estruturalismo à Pós-modernidade", tradução de Fábio Fernandes,Editora Difel.,2002

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Pós-estruturalismo: Michel Foucault

Inspirado por Bachelard, Canguilhem e Cavaillès, Focault reconhece que, se a história é sempre genealogia e uma intervenção, estruturas de conhecimento e modos de compreensão estão eles próprios sempre mudando. A epistemologia estuda essas alterações como a "gramática da produção" do conhecimento e é revelada pela prática da ciência, da filosofia, da arte e da literatura. A epistemologia é também um modo de vincular eventos materiais ao pensamento ou idéias. O fato de que uma prática particular incorpore uma idéia não é evidente por si mesmo; a conexão tem de ser evidenciada na prática da epistemologia.


Lechte, John"50 Pensadores Contemporâneos Essenciais:do Estruturalismo à Pós-modernidade", tradução de Fábio Fernandes,Editora Difel.,2002

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Pós-estruturalismo: Jacques Derrida

Por meio da abordagem chamada "desconstrução" , Derrida iniciou uma investigação fundamental sobre a natureza da tradução metafísica ocidental e sua base na lei da identidade. Superficialmente, os resultados dessa investigação parecem revelar uma tradição cheia de paradoxos e aporias lógicas.
(...)
O processo de "desconstrução" que investiga os fundamentos do pensamento ocidental não o faz na esperança de que ele seja capaz de remover esses paradoxos ou essas contradições; nem afirma ser capaz de fugir à exigências dessa tradição e estabelecer um sistema por conta própria. Ao contrário, ele reconhece que é forçado a utilizar os próprios conceitos que considera insustentáveis em termos das reivindicações que lhe são feitas. Resumindo, ele também deve (pelo menos provisoriamente) sustentar essas reivindicações.


Lechte, John"50 Pensadores Contemporâneos Essenciais:do Estruturalismo à Pós-modernidade", tradução de Fábio Fernandes,Editora Difel.,2002

terça-feira, 22 de junho de 2010

Pós-estruturalismo: Gilles Deleuze

Falando de maneira abrangente, o argumento de Difference and Repetition repousa na visão de que, na era contemporânea o jogo de diferença e repetição suplanta o do Mesmo e representação. Diferença e repetição são, com efeito, índices de um movimento na direção de um pensamento não-representacional e radicalmente horizontal; e Deleuze é o praticante supremo desse pensamento. Sua leitura de Nietzche fornece um caminho para o labirinto da horizontalidade. 


Lechte, John"50 Pensadores Contemporâneos Essenciais:do Estruturalismo à Pós-modernidade", tradução de Fábio Fernandes,Editora Difel.,2002

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Pós-estruturalismo: George Bataille

As preocupações de Bataille em mostrar como as produções intelectuais muitas vezes ocultavam um elemento de base inassimilável levou-o a etnografias de sociedades cujo laço social parecia ser fundado em práticas bastante horríveis para uma sensibilidade ocidental moderna. Assim, em The Accursed Share, o teórico do dispêndio como excesso argumenta que a magnificência dos artefatos culturais astecas precisa ser compreendida em conjunção com a prática do sacrifício humano, o belo tem de ser ligado ao básico. As guerras forneciam as vítimas para o ritual sangrento, em que o sacerdote enfiava uma faca de obsidiana no peito da vítima e retirava o coração ainda pulsando, que então oferecia ao Sol, deus supremo dos astecas. Mesmo sem perder o sacrifício asteca, Bataille mostra que ele se adapta a uma certa lógica. Em primeiro lugar, o sacrifício humano é um modo de introdução do desequilíbrio em uma sociedade dominada por valores de trocas utilitários. A degradação das relações utilitárias está incorporada à escravidão, em que o escravo não é nada além de um objeto a ser usado pelas pessoas livres. A vitima do sacrifício asteca, por contraste, era muitas vezes matada humanamente e chegava até a receber tratamento especial, porque havia um elo íntimo entre a vítima e o captor. A vítima morre no lugar do executor. Ela é a sua vivência da morte, uma experiência manifestada através de angústia devia à identificação dos executores com o sofrimento da vítima. O sacrifício "restaura o mundo sagrado, aquilo que o uso servil havia degradado, tornado profano". O sagrado, então, está além do valor de troca, ele não tem equivalente: nada, conseqüentemente, pode ser substituto do ato sacrificial. Em uma sociedade na qual o valor de troca assumiu quase que por completo o controle, o sacrifício não pode ser compreendido. Contudo, ele ainda encontra eco na mutilação corporal (como a de Van Gogh), em que o ato provoca uma ruptura da homogeneidade do self e introduz a heterogeneidade da vida social.




Lechte, John"50 Pensadores Contemporâneos Essenciais:do Estruturalismo à Pós-modernidade", tradução de Fábio Fernandes,Editora Difel.,2002

domingo, 20 de junho de 2010

História estrutural: Fernand Braudel

Três níveis de tempo organizam a história do Mediterrâneo de Braudel. O primeiro é do ambiente, que acarreta uma mudança lenta, quase imperceptível, um senso de repetição e ciclos. Embora possa ser lenta nesse nível, a mudança existe. Essa é a questão de Braudel. Esse, então, é o tempo geográfico. O segundo nível do tempo é o da história social e cultural. É o tempo dos grupos e dos agrupamentos, de impérios e civilizações. Nele, a mudança é muito mais rápida do que na do ambiente; entretanto, a extensão pdoe freqüentemente ser de dois ou três séculos para se estudar um aglomerado particular de fenômenos, como a ascensão e queda de várias aristocracias. O terceiro nível de tempo é o de eventos (histoire événementielle). É - ou pode ser - a história dos homens individuais. Esse, para Braudel, é o tempo de superfície e efeitos enganosos. É o tempo da courte durée propriamente dito e é exemplificado pela parte 3 de O Mediterrâneo, que trata de "eventos, políticas e pessoas". Além disso, há provavelmente um quarto tipo de tempo, o do momento, ou conjuntura, em que uma situação específica - a entrada e o efeito do idioma inglês no Mediterrâneo no século XVI - é estudada sob uma série de ângulos diferentes. A conjuntura abre-se para o tempo social e geográfico. Na verdade, o desacordo de Braudel com a sociologia estava no fato de que, em sua visão, ela concentrava atenção demasiada ao tempo individual, sem considerar o tempo da longue durée. Como resultado, a sociologia corria o risco de traçar um quadro superficial da humanidade.


Lechte, John"50 Pensadores Contemporâneos Essenciais:do Estruturalismo à Pós-modernidade", tradução de Fábio Fernandes,Editora Difel.,2002

sábado, 19 de junho de 2010

Estruturalismo: Michel Serres

Serres é ostensivamente um filósofo da ciência. Mas ao contrário até mesmo de seu mentor, Gaston Bachelard, ele jamais aceitou que qualquer ciência em especial - quanto mais a ciência natural - se conformasse à determinação positivista de um campo hermético e homogêneo de investigação. Em uma obra recente, Serres indicou que a forma e a natureza do conhecimento os aproximam mais da figura do arlequim: uma figura composta que sempre tem outra roupa sob a que foi removida. O arlequim é uma figura híbrida, hermafrodita, mestiça, uma mistura de diversos elementos, um desafia à homogeneidade, assim como o acaso da termodinâmica abre o sistema de energia e o impede de implodir.


Lechte, John"50 Pensadores Contemporâneos Essenciais:do Estruturalismo à Pós-modernidade", tradução de Fábio Fernandes,Editora Difel.,2002

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Estruturalismo:Christian Metz

De qualquer modo, Metz escolheu embasar sua construção mais rigorosa de uma sintaxe de cinema sobre o eixo sintagmático do significado. Essa construção que ele denomina la grande syntagmatique (a grande cadeia sintagmática, será por nós agora rapidamente resumida. A grande cadeia sintagmática é dividida em oito segmentos autônomos. Eles são:


1. Plano autônomo: não é um sintagma, mas um tipo sintagmático. É equivalente à exposição em isolamento de um único episódio da intriga. Inserções - por exemplo, uma "inserção não-diagética" (imagem fora da ação da história) - também podem ser equivalentes a um plano autônomo.


2. Sintagma paralelo: corresponde ao que é freqüentemente chamado de "seqüência de montagem paralela". Aqui, nenhuma relação precisa entre sintagma é evidente. Esse é um sintagma acronológico.


3. Sintagma acolado: sintagma de evocações. Por exemplo, Metz aponta para a forma como o erotismo é evocado em Une femme mariée, de Godard, mediante referências ao "significado global" do "amor moderno". Esse sintagma também é acronológico.


4. Sintagma descritivo: aqui a relação entre todos os elementos apresentados sucessivamente é de simultaneidade. Por exemplo, uma face, depois a pessoa a quem ela pertence, depois a sala ou escritório onde a pessoa esteja (Metz dá o exemplo de uma vista do campo, pedaço a pedaço). Um sintagma descritivo é cronológico.


5. Sintagma alternante: corresponde à "montagem alternativa", à "montagem paralela",etc. Por meio da alternância, a montagem apresenta diversas séries de eventos que são então compreendidos como de ocorrência simultânea.


6. Cena: a cena propriamente dita é equivalente ao fluxo contínuo de imagens em qualquer hiato diagético - uma das mais antigas construções cinemáticas. 


7. Seqüência por episódio: a descontinuidade torna-se um princípio de construção. Um sintagma linear produz uma descontinuidade de fato. Metz chama isso de "a seqüência propriamente dita".


8 Seqüência comum: disposição de elipes em ordem dispersa exemplificada por momentos saltados considerados sem interesse . O ponto sobre qualquer seqüência é que ela é removida das "condições reais de percepção".




Lechte, John"50 Pensadores Contemporâneos Essenciais:do Estruturalismo à Pós-modernidade", tradução de Fábio Fernandes,Editora Difel.,2002

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Estruturalismo: Claude Lévi-Strauss

Falando de forma geral, as apostas da obra de Lévi-Strauss são altas. Elas constituem uma demonstração de que, quando todos os dados estão à mão, não há base sobre a qual se possa traçar uma hierarquia de sociedades - seja em termos de progresso científico ou de evolução cultural. Na verdade, toda sociedade ou cultura exibe característica que estão presentes em maior ou menor grau em outras sociedades ou em outras culturas. Lévi-Strauss argumenta assim porque está convencido de que a dimensão cultural (na qual a linguagem é predominante), e não a natureza - ou o "natural" - é constituinte do humano. Estruturas simbólicas de parentesco, linguagem e troca de bens compõem a chave para a compreensão da vida social, não da biologia. De fato, sistemas de parentesco mantêm a natureza em xeque, eles são um fenômeno cultural baseado na proibição do incesto e, como tal, não são um fenômeno natural. Eles viabilizam a passagem da natureza para a cultura, ou seja, para a esfera do verdadeiramente humano. 


Lechte, John"50 Pensadores Contemporâneos Essenciais:do Estruturalismo à Pós-modernidade", tradução de Fábio Fernandes,Editora Difel.,2002

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Estruturalismo: Jacques Lacan

Embora a linguagem, como a parte privilegiada da ordem Simbólica, seja central para a teoria psicanalítica de Lacan, ela não é mais que um elemento em uma trilogia de ordens constituintes do sujeito em psicanálise. As outras ordens na trilogia são o Imaginário e o Real. Embora o inconsciente descentraliza o sujeito porque ele introduz a divisão, no nível do imaginário (ou seja, no discurso da vida cotidiana), os efeitos do inconsciente não são reconhecidos. No nível do Imaginário, o sujeito acredita na transparência do Simbolismo, ele não reconhece a falta de realidade no Simbólico. O Imaginário não é, então, simplesmente o espaço em que imagens são produzidas ou o sujeito se imiscui nos prazeres da imaginação. Na verdade, é no Imaginário que o sujeito reconhece equivocadamente (méconnaît)a natureza do simbólico. O Imaginário é, pois o reino da ilusão, mas de uma "ilusão necessária", como registrou Durkheim a respeito da religião.

Lechte, John"50 Pensadores Contemporâneos Essenciais:do Estruturalismo à Pós-modernidade", tradução de Fábio Fernandes,Editora Difel.,2002