Diferente de Joyce, Blanchet não escreve uma prosa "ilegível"; nem compões textos explicitamente musicais, como Mallarmé - embora o autor de Un Coup de dés seja um importante ponto de referência para ele. Ao contrário, a limpidez imediata da escrita ficcional de Blanchot leva o leitor a esperar que seu significado seja correspondentemente acessível. A frase de abertura de L´Arrêt de mort (Sentença de morte) é exemplar: "Essas coisas me acontecerem em 1938". Gradualmente essa limpidez de estilo e sentido dá margem a uma profunda obscuridade. Nomes são apagados à la Kafka; o lugar em que os eventos acontecem parece ser Paris, mas os endereços completos jamais são dados: "J" é uma mulher com uma doença terminal que parece morrer por vontade própria e que, mais tarde, parece ser auxiliada a morrer pelo narrador, que administra um coquetel mortal de morfina e sedativo. Os eventos parecem acontecer na época da crise de Munique, mas ao narrador também dá a impressão de que os "eventos" envolvidos são os que pertencem à escrita como os da história - uma escrita que o narrador continuamente se recusa a assumir. Na verdade, o tempo da escrita é ambíguo. Um rascunho inicial da narrativa foi destruído, e isso impele a escrita ao passado distante, enquanto, no ponto após a morte de J, o narrador diz que os eventos sendo narrados ainda não aconteceram. Esses tipos de característica na obra de Blanchot provocaram a descrição deles como navegando no torvelinho da indeterminação. E, de fato, a própria teoria literária de Blanchot oferece algumas bases para isso.
Lechte, John, "50 Pensadores Contemporâneos Essenciais:do Estruturalismo à Pós-modernidade", tradução de Fábio Fernandes,Editora Difel.,2002
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