sexta-feira, 25 de junho de 2010

Pós-estruturalismo: Emmanuel Levinas

A relação íntima de Levinas com a fenomenologia de Husserl forneceu a base para uma consideração detalhada da "determinação" da existência, como incorporada, por exemplo, na forma pessoal (em inglês) do verbo to be: "there is", ou seu equivalente francês, il y a, ou ainda (em alemão) es gibt. Levinas dá a essa mais cotidiana da expressões cotidianas uma poderosa virada, vinculando-a ao horror: "There is" é impessoal e determinado;não é exterior nem interior; é, diz Levinas, "o puro fato de ser", "There is" - o determinado (cf. es gibt) do Ser - é o equivalente da noite, da ambigüidade, da indeterminação. "There is" vem ao pensamento, confronta-o antes que a revelação ou o conceito o ordene de qualquer maneira; desliza pela transcendência e chega a desafiar o ego e todas as formas pessoais do simbólico. Como tal, Levinas argumenta, "O roçar do there is... é horror". E o autor continua, observando o modo pelo qual o "there is" se insinua na noite, como uma ameaça indeterminada do espaço propriamente dito desengajada de sua função como um receptáculo de objetos, como um meio de acesso aos seres. Embora Levinas recusasse a mais vaga pista de uma explicação psicanalítica, é como se o "there is" como horror fosse um trauma para a consciência e uma impossibilidade para processos simbólicos. Entretanto, também deveríamos nos lembrar de que o horror aqui é sempre já determinado: é portanto, inevitável, como o ser é inevitável. Não deve, então, ser compreendido como equivalente à ansiedade heideggeriana antes do conhecimento do nada: "Estar consciente é ser arrancado do there is." Isso ocorre porque a consciência precisa formar-se em uma subjetividade construída por uma certa estrutura de racionalidade. Levinas está interessado no lado obscuro dessa racionalidade, que não é simplesmente o irracional ou o vácuo indizível, mas uma força positiva que não pode ser excluída. Colocando de outra forma: a subjetividade se forma segundo os princípios universais da filosofia ocidental; o "there is", por comparação, é contingência - o particular que esconde o universal. O "espectro assustador", como visto em Macbeth, de Shakespeare, é o Ser como o "there is", e é isso precisamente o que aterroriza Macbeth. Noite, crime, espectro e horror aqui se juntam para dar a sombra do ser.


Lechte, John"50 Pensadores Contemporâneos Essenciais:do Estruturalismo à Pós-modernidade", tradução de Fábio Fernandes,Editora Difel.,2002

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