segunda-feira, 21 de junho de 2010

Pós-estruturalismo: George Bataille

As preocupações de Bataille em mostrar como as produções intelectuais muitas vezes ocultavam um elemento de base inassimilável levou-o a etnografias de sociedades cujo laço social parecia ser fundado em práticas bastante horríveis para uma sensibilidade ocidental moderna. Assim, em The Accursed Share, o teórico do dispêndio como excesso argumenta que a magnificência dos artefatos culturais astecas precisa ser compreendida em conjunção com a prática do sacrifício humano, o belo tem de ser ligado ao básico. As guerras forneciam as vítimas para o ritual sangrento, em que o sacerdote enfiava uma faca de obsidiana no peito da vítima e retirava o coração ainda pulsando, que então oferecia ao Sol, deus supremo dos astecas. Mesmo sem perder o sacrifício asteca, Bataille mostra que ele se adapta a uma certa lógica. Em primeiro lugar, o sacrifício humano é um modo de introdução do desequilíbrio em uma sociedade dominada por valores de trocas utilitários. A degradação das relações utilitárias está incorporada à escravidão, em que o escravo não é nada além de um objeto a ser usado pelas pessoas livres. A vitima do sacrifício asteca, por contraste, era muitas vezes matada humanamente e chegava até a receber tratamento especial, porque havia um elo íntimo entre a vítima e o captor. A vítima morre no lugar do executor. Ela é a sua vivência da morte, uma experiência manifestada através de angústia devia à identificação dos executores com o sofrimento da vítima. O sacrifício "restaura o mundo sagrado, aquilo que o uso servil havia degradado, tornado profano". O sagrado, então, está além do valor de troca, ele não tem equivalente: nada, conseqüentemente, pode ser substituto do ato sacrificial. Em uma sociedade na qual o valor de troca assumiu quase que por completo o controle, o sacrifício não pode ser compreendido. Contudo, ele ainda encontra eco na mutilação corporal (como a de Van Gogh), em que o ato provoca uma ruptura da homogeneidade do self e introduz a heterogeneidade da vida social.




Lechte, John"50 Pensadores Contemporâneos Essenciais:do Estruturalismo à Pós-modernidade", tradução de Fábio Fernandes,Editora Difel.,2002

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